Redação do Site Inovação Tecnológica - 11/08/2022
"Não há água aqui"
Contrariamente a todas as expectativas, a primeira análise ampla dos dados da sonda marciana InSight teve como conclusão uma decepcionante mensagem de "Gelo não encontrado".
"Nós descobrimos que a crosta de Marte é fraca e porosa. Os sedimentos não são bem cimentados. E não há gelo ou muito gelo preenchendo os espaços dos poros," resumiu o professor Vashan Wright, da Universidade da Califórnia de San Diego.
A sonda InSight (sigla em inglês para Exploração Interior usando Investigações Sísmicas, Geodésia e Transporte de Calor) pousou em Marte no início de 2019 e é uma das menos conhecidas sondas marcianas, talvez porque seja fixa, e não um rover, como os exploradores marcianos mais famosos.
Além de detectar martemotos, os terremotos de Marte, a sonda possui um instrumento cujos dados fornecem estimativas da velocidade das ondas sísmicas dentro da crosta do planeta.
Essas velocidades mudam dependendo do tipo de rocha e do material que preenche os poros das rochas. Os materiais de preenchimento de poros possíveis incluem gás, água líquida, gelo e outros cimentos minerais. Esses possíveis minerais de cimentação, como calcita, argila, caulinita e gesso, também afetam as velocidades sísmicas.
"Nós rodamos nossos modelos 10.000 vezes cada um para incorporar as incertezas em nossas respostas," contou Richard Kilburn, coautor da análise. No final, porém, somente as simulações mostrando uma subsuperfície consistindo principalmente de material não cimentado e sem gelo se ajustaram aos dados.
Sem sinais dos antigos oceanos de Marte
A primeira surpresa é que os 300 metros do subsolo a partir da superfície contêm pouco ou nenhum gelo. Quando se lembra que a temperatura na superfície de Marte, mesmo na região equatorial, onde a sonda está pousada, tem temperaturas abaixo dos 50 ºC negativos, este é um resultado inesperado.
Um dos objetivos da missão era justamente quantificar o gelo e outros minerais na subsuperfície rasa de Marte, o que pode ajudar a determinar se Marte já abrigou vida, entender sua história climática, entender o sistema geológico do planeta e preparar futuras missões de exploração humana.
A segunda surpresa contradiz uma ideia fundamental sobre o que aconteceu com a água em Marte. Há inúmeros indícios de que o planeta tenha abrigado oceanos de água no início da sua história, por isso os cientistas acreditavam que grande parte da água tivesse se tornado parte dos minerais que compunham o antigo leito oceânico - e esses minerais deveriam estar lá, mesmo depois que o oceano secou.
"Se você colocar água em contato com rochas, você produz um novo conjunto de minerais, como argila, então a água não é um líquido. É parte da estrutura mineral," explicou o professor Michael Manga, da Universidade de Berkeley. "Há algum cimento, mas as rochas não estão cheias de cimento," acrescentou ele, referindo-se àqueles minerais que funcionam como agregadores das rochas.
A água também pode entrar em minerais que não atuam como cimento. Mas o que os dados mostram é uma subsuperfície não cimentada, que os pesquisadores chamam de "fraca e porosa". E um material assim não é bom para preservar registros de vida ou atividade biológica no passado geológico.
Refazendo os planos
Era virtualmente um consenso que a subsuperfície marciana estaria cheia de gelo, mas essas expectativas agora literalmente derreteram.
"Como cientistas, estamos agora confrontados com os melhores dados, as melhores observações. E nossos modelos previam que ainda deveria haver solo congelado naquela latitude com aquíferos embaixo," comentou Manga.
As conclusões apresentadas agora são coerentes com duas outras análises recentes, feitas por outras equipes, que mostraram que encontrar indícios de vida em Marte exigirá cavar mais fundo, tomando por base dados de uma área mais ampla, coletados pelo robô Curiosity.
Por outro lado, grandes mantos de gelo e solo congelado permanecem nos pólos marcianos, e é para lá que as expectativa se voltarão a partir de agora.