Redação do Site Inovação Tecnológica - 13/08/2024
Oceanos inalcançáveis
Uma nova análise dos dados coletados em Marte pela sonda espacial InSight mostra que esses dados se encaixam melhor em uma estrutura planetária que inclui uma enorme quantidade de água nas profundezas do planeta.
Este seria o melhor indício obtido até o momento de que o planeta ainda teria água líquida - sabemos que Marte tem água congelada nos seus polos.
A presença potencial de água líquida em Marte tem intrigado os cientistas há décadas, compondo o chamado "Paradoxo de Marte", o fato de que Marte é frio demais, não tendo hoje, e quase certamente nunca tendo no passado, condições de contar com águas correntes em sua superfície. Por outro lado, o relevo do planeta tem enormes estruturas geológicas que são melhor explicadas por grandes rios e lagos.
Fazendo as contas, a equipe propõe que o volume de água nessas rochas seria suficiente para ter preenchido os hipotéticos oceanos marcianos antigos. Se a interpretação dos dados e essa conclusão forem verdadeiras, ela prepara o cenário para novas pesquisas considerando a habitabilidade do planeta e continuando uma busca por vida que exista em um lugar diferente da Terra.
Por outro lado, será muito difícil comprovar esta hipótese, já que a proposta é que a água estaria localizada em pequenas rachaduras e poros nas rochas no meio da crosta marciana, entre 11,5 e 20 quilômetros abaixo da superfície, uma espécie de lençol freático muito profundo.
Mesmo na Terra, perfurar um buraco de apenas 1 km de profundidade é um desafio. O poço mais profundo do mundo, chamado Poço Superprofundo Kola, alcançou 12.262 metros abaixo da superfície, em uma região remota do noroeste da Rússia - levou 20 anos para perfurá-lo. A perfuratriz enviada a Marte na mesma sonda não conseguiu furar nem 40 centímetros.
Busca de água em Marte
O módulo de pouso InSight foi enviado pela NASA a Marte em 2018 para investigar a crosta, o manto, o núcleo e a atmosfera do planeta. Ao contrário dos rovers, a sonda era estacionária. A missão se encerrou em 2022, depois que seus painéis solares ficaram cobertos de poeira.
Três cientistas empregaram agora um novo modelo matemático de física de rochas baseado nos modelos usados na Terra para mapear aquíferos subterrâneos e campos de petróleo. Eles concluíram que os dados sísmicos da Insight são melhor explicados por uma camada profunda de rochas ígneas fraturadas saturadas com água líquida - rochas ígneas são oriundas do magma, mas já esfriadas.
"Não vejo por que [o reservatório subterrâneo hipotético de Marte] não seja um ambiente habitável. Certamente é verdade na Terra - minas muito, muito profundas, abrigam vida, o fundo do oceano abriga vida. Não encontramos nenhuma evidência de vida em Marte, mas pelo menos identificamos um lugar que deveria, em princípio, ser capaz de sustentar vida," disse o professor Michael Manga, da Universidade de Berkeley e um dos autores da nova análise.
Paradoxo de Marte
O relevo de Marte apresenta canais de rios, deltas e lagos, bem como rochas alteradas pela água, dando apoio à hipótese de que a água já fluiu na superfície do planeta. Mas esse período úmido terminou há mais de 3 bilhões de anos, depois que Marte perdeu sua atmosfera.
Várias sondas e módulos de pouso já foram enviados ao planeta para descobrir o que aconteceu com essa água - a água congelada nas calotas polares de Marte não consegue explicar tudo - bem como quando isso aconteceu e se a vida existe ou costumava existir no planeta.
A melhor notícia nesse aspecto veio no mês passado, quando foi encontrada em Marte uma rocha com possíveis indícios de vida antiga.