Redação do Site Inovação Tecnológica - 13/07/2023
Carbono abiótico
Usando dados coletados pelo robô Perseverança, cientistas acreditam ter encontrado indícios da presença de moléculas orgânicas na superfície de Marte que não se esperava encontrar nos pontos estudados pelo rover.
As análises indicam a presença de um ciclo geoquímico orgânico mais intrincado em Marte do que se esperava, sugerindo a existência de vários reservatórios distintos de potenciais compostos orgânicos.
Se esses dados forem confirmados por novas coletas de materiais e análises com outras técnicas, isso pode indicar indícios de condições de habitabilidade no passado remoto de Marte, ainda que os compostos identificados agora não estejam diretamente associados com a vida.
O local onde o robô pousou, dentro da cratera Jezero, foi escolhido por oferecer um alto potencial de indicar habitabilidade no passado: Como uma antiga bacia de lago, a região contém uma variedade de minerais, incluindo carbonatos, argilas e sulfatos. Mas os compostos de carbono foram inesperados.
"Inicialmente, não esperávamos detectar essas possíveis assinaturas orgânicas no fundo da cratera Jezero," disse Amy Williams, da Universidade da Flórida, nos EUA. "Mas sua diversidade e distribuição em diferentes unidades do fundo da cratera agora sugerem destinos potencialmente diferentes de carbono nesses ambientes."
Moléculas orgânicas não ligadas à vida
A análise detectou sinais consistentes com moléculas ligadas a processos aquosos, indicando que a água pode ter desempenhado um papel na diversidade dos materiais à base de carbono - matéria orgânica - em Marte, e que esses materiais podem ter persistido na região por um período muito mais longo do que se pensava anteriormente.
Contudo, é necessário considerar que matéria orgânica pode ser formada a partir de vários processos, e não apenas naqueles relacionados à vida. Processos geológicos e reações químicas também podem formar moléculas orgânicas, e na verdade é muito mais provável que esses processos sejam os responsáveis pela origem desses novos orgânicos marcianos.
Até agora, matéria orgânica só havia sido detectada em Marte pelo módulo de pouso Mars Phoenix e pelo rover Curiosidade, e usando técnicas como análise de gás, cromatografia gasosa e espectrometria de massa. Este novo estudo usou uma técnica diferente.
Os cientistas usaram um instrumento chamado Sherloc (sigla em inglês para Digitalização de ambientes habitáveis com Raman e luminescência para produtos orgânicos e químicos) para mapear a distribuição de moléculas orgânicas e minerais nas superfícies rochosas. O instrumento emprega ultravioleta Raman profundo e espectroscopia de fluorescência para medir simultaneamente sinais fracos (espalhamento Raman) e sinais fortes (emissões de fluorescência).
"Estamos apenas arranhando a superfície da história do carbono orgânico em Marte, e é um momento emocionante para a ciência planetária," disse Williams.
Era do gelo em Marte
O rover chinês Zhurong também trouxe novidades, mas de uma outra região de Marte - o Zhurong pousou em Marte em 15 de maio de 2021 na borda sul da Planície Utopia.
Ao analisar o topo mais escuro das dunas da região, Jianjun Liu e colegas do Observatório Astronômico Nacional, na China, encontraram registros de uma mudança significativa na direção dos ventos ao longo do tempo geológico, o que pode sinalizar uma grande mudança climática no planeta em um período muito recente.
Os indícios são de que Marte passou por uma era do gelo entre 2,1 milhões de anos e 400 mil anos atrás, que novamente transicionou para o clima atual depois de uma alteração no eixo de inclinação de Marte.
"Encontramos evidências de uma sequência estratigráfica envolvendo a formação inicial de dunas barcanas [em formato de lua crescente], indicativa de ventos de nordeste, cimentação de sedimentos de dunas, seguida por sua erosão por ventos de noroeste, erodindo as dunas barcanas e produzindo dunas longitudinais distintas, com a transição no regime de vento consistente com o fim de uma era do gelo," escreveu a equipe.
Uma era do gelo em Marte já havia sido sugerida por observações de sondas espaciais em órbita do planeta, mas estes são os primeiros indícios coletados em solo que dão suporte a essa hipótese.