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Espaço

Marte: O planeta que já foi vermelho e azul

Com informações do ESO - 10/03/2015

Marte: O planeta que já foi vermelho e azul
Esta concepção artística mostra como Marte poderia ter sido quando ainda tinha um oceano.
[Imagem: ESO/M. Kornmesser/N. Risinger]

Oceano que evaporou

Um oceano primitivo em Marte continha mais água do que o Oceano Ártico na Terra e cobria uma porção da superfície do planeta maior do que a coberta pelo Oceano Atlântico terrestre.

Uma equipe internacional de astrônomos monitorou a atmosfera do planeta e mapeou as propriedades da água em diversas regiões da atmosfera de Marte durante um período de seis anos.

Segundo a equipe, há cerca de quatro bilhões de anos, o planeta Marte devia ter água suficiente para cobrir toda a sua superfície com uma camada líquida de cerca de 140 metros de profundidade, mas o mais provável é que o líquido tenha-se juntado para formar um oceano que ocuparia quase metade do hemisfério norte de Marte, onde algumas regiões teriam atingido uma profundidade de mais de 1,6 quilômetro.

"Nosso estudo nos dá uma estimativa robusta da quantidade de água que Marte teve no passado, através da determinação da quantidade de água que se perdeu no espaço," explicou Geronimo Villanueva, cientista do Centro Goddard da NASA.

Água semipesada

A estimativa baseia-se em observações de duas formas ligeiramente diferentes de água na atmosfera de Marte. Uma é a familiar forma da água, composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio (H2O), e a outra é HDO, ou água semipesada, uma variação, também de ocorrência natural, na qual um dos átomos de hidrogênio é substituído por um átomo de deutério, um isótopo do hidrogênio.

Como a água com deutério é mais pesada do que a água normal, ela se perde menos no espaço devido à evaporação. Por isso, quanto maior for a perda de água do planeta, maior será o quociente de HDO/H2O na água que resta - nos oceanos da Terra existem cerca de 3.200 moléculas de H2O para uma molécula de HDO.

Ao comparar a razão de HDO para H2O, é possível medir o quanto aumentou a fração de HDO e, assim, determinar quanta água escapou para o espaço, o que por sua vez permite estimar a quantidade de água que Marte tinha no passado.

A equipe estava especialmente interessada nas regiões perto dos polos norte e sul de Marte, uma vez que as calotas polares são os maiores reservatórios de água conhecidos no planeta.

Marte: O planeta que já foi vermelho e azul
Outra visualização artística do planeta vermelho e azul.
[Imagem: NASA/GSFC]

Oceano de Marte

Os dados mostram que a água atmosférica nas regiões próximas dos polos encontra-se enriquecida de um fator 7 relativamente à água oceânica na Terra, o que sugere que a água nas calotas polares permanentes de Marte esteja enriquecida de um fator 8.

Fazendo as contas, Marte deve ter perdido um volume de água 6,5 vezes maior do que as calotas polares atuais, o que significa que o volume do oceano primitivo de Marte deve ter sido de, pelo menos, 20 milhões de quilômetros cúbicos.

Com base na atual superfície de Marte, uma possível localização para esta água seriam as planícies do norte, há muito consideradas boas candidatas para abrigar um oceano devido ao solo baixo que apresentam. Um oceano primitivo nesse local teria coberto 19% da superfície do planeta - para comparação, o Oceano Atlântico cobre 17% da superfície da Terra.

Se os dados forem confirmados pelas sondas espaciais e pelos robôs que estão em Marte - estes limitados a observações locais - haverá então espaço para novas hipóteses sobre as razões que levaram à perda de um oceano inteiro por evaporação para o espaço.

Como os novos mapas revelam microclimas e variações temporais no conteúdo de água atmosférica, eles poderão igualmente ser úteis em futuras buscas de água subterrânea no planeta, hoje totalmente desértico, e apenas vermelho.

Bibliografia:

Artigo: Strong water isotopic anomalies in the Martian atmosphere: probing current and ancient reservoirs
Autores: G. L. Villanueva, M. J. Mumma, R. E. Novak, H. U. Käufl, P. Hartogh, T. Encrenaz, A. Tokunaga, A. Khayat, M. D. Smith
Revista: Science
Vol.: Published Online
DOI: 10.1126/science.aaa3630
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