Redação do Site Inovação Tecnológica - 29/12/2020
Transístor como qubit
Um consórcio de empresas e universidades europeias parece ter guardado o presente de Natal para o mundo da tecnologia da informação para depois das festas.
A equipe conseguiu usar transistores eletrônicos comuns, feitos de silício, como qubits para computadores quânticos.
Ainda é apenas uma demonstração de conceito, mas é um salto qualitativo sem precedentes rumo a processadores quânticos viáveis técnica e economicamente, e que possam conter um número de qubits suficiente para não deixar margens a dúvidas quanto à supremacia quântica.
Usando pastilhas com transistores comuns, fabricadas pela empresa francesa Leti, pesquisadores da Universidade de Copenhagen confirmaram que os transistores presentes nas pastilhas, produzidos industrialmente, são adequados como uma plataforma de qubits e, mais do que isso, uma plataforma que já se demonstrou operacional.
Transístor como qubit
A equipe já havia construído em laboratório um qubit usando um transístor operando com um único elétron, mas agora, além de passarem para o nível industrial, eles saltaram para a segunda dimensão, criando uma matriz de qubits, que podem então ser postos para operar conjuntamente.
Na verdade, o transístor funciona como um ponto quântico, só que um ponto quântico cujo controle é bem conhecido da indústria microeletrônica - o controle é feito por sinais elétricos transmitidos por eletrodos comuns, e não por campos magnéticos.
"O que demonstramos é que podemos realizar o controle de um único elétron em cada um desses pontos quânticos. Isso é muito importante para o desenvolvimento de um qubit, porque uma das maneiras possíveis de fazer qubits é usar o spin de um único elétron. Portanto, atingir esse objetivo de controlar os elétrons individuais e fazer isso em uma matriz 2D de pontos quânticos foi muito importante para nós," disse o pesquisador Fabio Ansaloni.
Qubits de elétrons
Usar o spin dos elétrons como qubit tem-se mostrado um caminho promissor porque a natureza "silenciosa" dos spins faz com que eles fiquem quase imunes a interações com o ambiente, um requisito importante para obter qubits de alto desempenho, que não percam os dados facilmente.
Além disso, construir fileiras de qubits interagentes - em vez de qubits individuais - é essencial para uma implementação mais eficiente das rotinas de correção de erros - a correção de erros quânticos permitirá que os futuros computadores quânticos sejam tolerantes a falhas de qubit individuais durante os cálculos.
Outro destaque do avanço é o fato de que os pesquisadores partiram de uma pastilha produzida industrialmente para fabricar seus qubits. Isso é muito diferente do que a maioria das outras equipes que lidam com computação quântica está fazendo, criando seus qubits em laboratório, e só depois se preocupando se eles poderão ser fabricados industrialmente.
"Em primeiro lugar, produzir os componentes em uma fundição industrial é uma necessidade. A escalabilidade de um processo industrial moderno é essencial à medida que começamos a fazer matrizes maiores, por exemplo, para pequenos simuladores quânticos. Em segundo lugar, ao fazer um computador quântico, você precisa de uma matriz em duas dimensões, e você precisa de uma maneira de conectar o mundo externo a cada qubit. Se você tiver 4, 5 conexões para cada qubit, rapidamente acabará com um número irreal de fios saindo da configuração de baixa temperatura. Mas o que conseguimos mostrar é que podemos ter uma porta por elétron, e você pode ler e controlar com a mesma porta. E, por último, usando essas ferramentas, fomos capazes de mover e trocar elétrons únicos de forma controlada em torno da matriz, um desafio por si só," resumiu a professora Anasua Chatterjee, uma das coordenadoras do consórcio.
Portas simples e duplas
O resultado apresentado mostra que agora é possível controlar elétrons individuais e realizar o experimento na ausência de um campo magnético.
O próximo passo será lidar com os spins na presença de um campo magnético. Isso será essencial para implementar portas de um e dois qubits usando cada um dos qubits da fileira.
A teoria tem mostrado que um punhado de portas qubit simples e duplas, conhecidas como um "conjunto completo de portas quânticas", são suficientes para permitir a computação quântica universal, ou seja, processadores quânticos não-dedicados, que possam ser programados para realizar qualquer computação, como os computadores eletrônicos atuais.