Redação do Site Inovação Tecnológica - 11/12/2018
Planetas de estrelas frias
Quatro telescópios projetados para procurar planetas habitáveis em órbita de estrelas ultra-frias começaram a operar de forma bem-sucedida no Observatório do Paranal no Chile.
O projeto SPECULOOS, liderado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO) fez as suas primeiras observações em busca de planetas do tamanho da Terra que orbitam estrelas ultra-frias e anãs marrons próximas.
As primeiras imagens ainda pertencem à fase de engenharia e calibração - um processo conhecido por primeira luz. Quando terminar esta fase de comissionamento, esta nova rede de telescópios caçadores de planetas irá começar as operações científicas, o que deverá acontecer a partir de Janeiro de 2019.
O sistema é constituído por quatro telescópios equipados com espelhos primários de 1 metro de diâmetro cada um, batizados de Io, Europa, Ganimedes e Calisto, como os quatro satélites galileanos de Júpiter.
SPECULOOS é uma sigla para Search for habitable Planets EClipsing ULtra-cOOl Stars (Busca por planetas habitáveis eclipsando estrelas ultra-frias), mas é também o nome de um biscoito de especiarias (canela, noz moscada, cravinho, gengibre, entre outros) tradicionalmente confeccionado para o dia de São Nicolau, refletindo a origem belga do projeto. O telescópio TRAPPIST tem também o mesmo tipo de nome belga, referindo-se às cervejas Trappist, a maioria das quais são produzidas na Bélgica.
Exoplanetas orbitando estrelas frias
A grande tarefa será procurar pelas estrelas frias e, a seguir, por exoplanetas que as orbitem. Apesar de serem difíceis de observar, estas estrelas de brilho tênue são bastante abundantes - cerca de 15% das estrelas do Universo próximo. Em sua fase inicial, o SPECULOOS irá explorar 1.000 dessas estrelas, incluindo as mais próximas, as mais brilhantes e as menores, em busca de planetas do tamanho da Terra situados na zona de habitabilidade - com temperaturas adequadas para a existência de água líquida em sua superfície.
O SPECULOOS irá procurar exoplanetas pelo método do trânsito, seguindo o exemplo do seu telescópio protótipo TRAPPIST-Sul, também instalado no Observatório de La Silla. Em operação desde 2011, o TRAPPIST detectou o famoso sistema planetário TRAPPIST-1, com nada menos do que sete exoplanetas.
Quando um planeta passa à frente da sua estrela, ele bloqueia uma pequena parte da emissão estelar - dando essencialmente origem a um pequeno eclipse parcial - o que resulta numa diminuição sutil, mas detectável, da luz da estrela. Os exoplanetas com estrelas hospedeiras menores bloqueiam mais quantidade de emissão estelar durante o trânsito, fazendo com que estes eclipses periódicos sejam mais fáceis de detectar do que os associados a estrelas maiores.
Até agora, apenas uma pequena fração dos exoplanetas detectados por este método possuem um tamanho semelhante ou inferior ao da Terra. No entanto, o pequeno tamanho das estrelas alvo do SPECULOOS, combinado com a elevada sensibilidade dos telescópios, permitirá detectar planetas em trânsito de tamanho terrestre situados nas zonas de habitabilidade das estrelas. Estes planetas serão os candidatos ideais para observações de seguimento, a serem executadas por grandes telescópios, situados tanto no solo como no espaço.