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Possível sinal de vida é detectado em Vênus

Redação do Site Inovação Tecnológica - 15/09/2020

Astrônomos descobrem possível sinal de vida em Vênus
Impressão artística de Vênus, com uma ilustração da molécula de fosfina, possível indicador de vida no planeta.
[Imagem: ESO/M. Kornmesser/L. Calçada/NASA/JPL/Caltech]

Atualização18/11/2020 07:54

A equipe de pesquisa publicou uma reanálise dos seus dados depois de encontrar um erro no processamento original. A reanálise reduziu a eventual proporção de fosfina em Vênus para apenas 1ppb (uma parte por bilhão), o que fez a equipe reduzir sua conclusão anterior de "descoberta" para "conclusão sujeita a confirmação".

O artigo abaixo foi deixado como publicado originalmente.


Vida em Vênus

Uma equipe internacional de astrônomos anunciou a descoberta de uma molécula rara - a fosfina, ou hidreto de fósforo (PH3) - nas nuvens de Vênus.

Na Terra, este gás só é fabricado de forma industrial ou por micróbios que se desenvolvem em ambientes anaeróbicos, ou seja, sem oxigênio.

Mas não há explicações plausíveis para a presença da fosfina abiótica - de origem que não seja sua geração por organismos vivos - na atmosfera de Vênus.

"A presença de PH3 permanece inexplicada após estudo exaustivo da química de estado estacionário e vias fotoquímicas, sem rotas de produção abiótica atualmente conhecidas na atmosfera, nuvens, superfície e subsuperfície, ou de raios, distribuição vulcânica ou meteorítica em Vênus. O PH3 pode originar-se de uma fotoquímica ou geoquímica desconhecidas ou, por analogia com a produção biológica de PH3 na Terra, pela presença de vida. Outras características espectrais do PH3 devem ser buscadas, enquanto amostragens in situ de nuvens e de superfície poderiam examinar as fontes desse gás," escreveu a equipe em seu artigo.

Há décadas os astrônomos discutem a hipótese de que as nuvens altas em Vênus poderiam oferecer um lar para micróbios, já que eles poderiam flutuar livres da superfície escaldante do planeta. Mas esses hipotéticos micróbios precisariam tolerar uma acidez muito alta.

A detecção de fosfina pode apontar para essa vida "aérea" extraterrestre.

"Quando descobrimos os primeiros indícios de fosfina no espectro de Vênus, ficamos em choque!" disse Jane Greaves, da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, responsável pela detecção da fosfina em Vênus. A equipe fez a detecção usando o telescópio James Clerk Maxwell (JCMT), no Havaí, e confirmou os dados usando as 45 antenas do radiotelescópio ALMA, no Chile.

Fosfina

Os dados indicam que existe fosfina - ou hidreto de fósforo (PH3) - em pequenas concentrações nas nuvens de Vênus, apenas cerca de 20 moléculas em cada bilhão.

A equipe então fez os cálculos para determinar se estas quantidades poderiam ter origem em processos não biológicos naturais no planeta. Algumas ideias incluíam luz solar, minerais soprados da superfície para a atmosfera, vulcões ou relâmpagos.

No entanto, eles concluíram que nenhum desses processos poderia criar, nem de perto, a quantidade de fosfina observada - estas fontes não biológicas podem criar, no máximo, dez milésimos da quantidade de fosfina observada pelos telescópios em Vênus.

Segundo a equipe, para formar a quantidade de fosfina observada em Vênus, organismos terrestres teriam que trabalhar apenas a 10% de sua produtividade máxima. Sabe-se que bactérias terrestres criam fosfina retirando fosfato de minerais ou material biológico, acrescentando hidrogênio e, por fim, expelindo PH3. Qualquer organismo em Vênus provavelmente será muito diferente de seus primos terrestres, mas eles também poderiam ser a fonte de fosfina na atmosfera do planeta vizinho.

Astrônomos descobrem possível sinal de vida em Vênus
As moléculas de fosfina flutuam nas nuvens a altitudes que vão dos 55 aos 80 km, absorvendo algumas das ondas milimétricas produzidas a altitudes mais baixas, permitindo sua identificação.
[Imagem: ESO/M. Kornmesser/L. Calçada]

Vida em Vênus?

A portuguesa Clara Sousa Silva, atualmente no MIT e membro da equipe de observação, já havia investigado a fosfina como bioassinatura de vida anaeróbica em planetas que orbitam outras estrelas, uma vez que a química normal não explica bem esse fenômeno.

"Encontrar fosfina em Vênus foi um bônus inesperado. A descoberta levanta muitas questões, tais como é que os organismos poderão sobreviver na atmosfera do planeta vizinho. Na Terra, alguns micróbios conseguem suportar até cerca de 5% de ácido no seu meio - mas as nuvens de Vênus são quase inteiramente feitas de ácido," comentou Clara.

A equipe acredita que esta descoberta é bastante significativa, uma vez que já se pode descartar muitos outros processos alternativos de formação de fosfina. No entanto, para confirmar a presença de vida ainda será necessário muito trabalho. Apesar de as temperaturas rondarem quase agradáveis 30 ºC nas altas nuvens de Vênus, o meio é extremamente ácido - com cerca de 90% de ácido sulfúrico - o que coloca sérias dificuldades a quaisquer micróbios que tentem sobreviver lá. Por outro lado, hoje já se sabe que as bactérias sobreviveriam a uma viagem interplanetária sem precisar de uma nave espacial. um ambiente em certa medida ainda mais inóspito.

Mais observações de Vênus e de outros planetas rochosos fora do nosso Sistema Solar, incluindo as obtidas com o futuro telescópio ELT, atualmente em construção no Chile, poderão ajudar a somar pistas de como a fosfina se forma nestes corpos e contribuir para a procura de sinais de vida fora da Terra. Mas a descoberta certamente coloca uma missão de coleta de amostras em Vênus na agenda.

Bibliografia:

Artigo: Phosphine gas in the cloud decks of Venus
Autores: Jane S. Greaves, Anita M. S. Richards, William Bains, Paul B. Rimmer, Hideo Sagawa, David L. Clements, Sara Seager, Janusz J. Petkowski, Clara Sousa-Silva, Sukrit Ranjan, Emily Drabek-Maunder, Helen J. Fraser, Annabel Cartwright, Ingo Mueller-Wodarg, Zhuchang Zhan, Per Friberg, Iain Coulson, Elisa Lee, Jim Hoge
Revista: Nature Astronomy
DOI: 10.1038/s41550-020-1174-4

Artigo: Re-analysis of Phosphine in Venus' Clouds
Autores: Jane S. Greaves, Anita M. S. Richards, William Bains, Paul B. Rimmer, David L. Clements, Sara Seager, Janusz J. Petkowski, Clara Sousa-Silva, Sukrit Ranjan, Helen J. Fraser
Revista: arXiv
Link: https://arxiv.org/abs/2011.08176
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