Redação do Site Inovação Tecnológica - 30/08/2024
Tecido que resfria
Para deixar as pessoas mais confortáveis ao ar livre em tempos de temperaturas recordes, tem crescido o esforço para desenvolver tecidos que simultaneamente desviam os raios solares e expulsam o calor natural do corpo - um processo conhecido como resfriamento radiativo.
Embora essa refrigeração passiva já venha rendendo bons frutos em dispositivos para operar em residências e edifícios, colocá-la em tecidos é mais problemático.
Algumas das alternativas já testadas contêm partículas sintéticas refratárias à luz, como dióxido de titânio ou óxido de alumínio. Outras usam polímeros orgânicos, como difluoreto de polivinilideno, que requerem substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil, conhecidas como PFAS ou "químicos eternos", de modo que transformar esses tecidos refletores de luz em produtos sustentáveis é quase impossível.
Assim, Evan Patamia e colegas da Universidade de Massachusetts Amherst, nos EUA, se voltaram para uma abordagem mais natural, usando materiais ambientalmente benignos.
Eles buscaram inspiração nos rebocos à base de calcário triturado usados historicamente para manter as casas frescas em locais extremamente ensolarados - você certamente já viu cidades e vilas todas brancas na orla mediterrânea, onde esses revestimentos são usados há séculos.
A base do processo é uma técnica desenvolvida anteriormente pela própria equipe para aplicar revestimentos de polímero em tecidos por meio do processo de deposição química de vapor (CVD). O método combina síntese e deposição na mesma etapa, ainda que na época eles não estivessem interessados em roupas refrigeradas, mas sim em roupas de inverno que esquentam de verdade.
Roupas que resfriam de verdade
Partindo de sua técnica básica, a equipe desenvolveu um processo que permite integrar no polímero o carbonato de cálcio - CaCO3, o principal componente do calcário e do giz - assim como o biocompatível sulfato de bário (BaSO4). Partículas pequenas de carbonato de cálcio são boas em refletir a luz nos comprimentos de onda visíveis e infravermelho próximo, e as partículas de sulfato de bário refletem luz ultravioleta.
O processo consiste na aplicação de uma camada de polímero [poli(2-hidroxietil acrilato)] de 5 micrômetros de espessura, e então mergulhar repetidamente o tecido em soluções contendo íons de cálcio ou bário e soluções contendo íons de carbonato ou sulfato. A cada mergulho, os cristais se tornam maiores e mais uniformes, e o tecido desenvolve um acabamento claro e fosco. Alterando o número de ciclos de mergulho é possível ajustar as partículas para atingir a distribuição ideal de tamanhos (entre 1 e 10 micrômetros de diâmetro) para refletir luz UV e infravermelho próximo simultaneamente.
Nos testes ao ar livre, no meio da tarde de um dia ensolarado, quando a temperatura marcava 32,2 ºC, a temperatura do ar abaixo do tecido tratado ficou 8,4 ºC mais fria do que sob o tecido não tratado, e 4,5 ºC mais fria do que a temperatura ambiente. "Vimos um efeito de resfriamento verdadeiro," disse Patamia. "O ar que está sob a amostra fica mais frio do que ficar na sombra."
Os protótipos têm dimensões limitadas pelos equipamentos do laboratório, mas a equipe já fundou uma empresa e está ampliando o processo para tratar rolos de tecido com cerca de 1,5 m de largura e até 90 m de comprimento.
"O que torna nossa técnica única é que podemos fazer isso em quase qualquer tecido disponível comercialmente e transformá-lo em algo que pode manter as pessoas frescas," disse Patamia. "Sem nenhuma entrada de energia, somos capazes de reduzir o quão quente uma pessoa se sente, o que pode ser um recurso valioso quando as pessoas estão lutando para se manter frescas em ambientes extremamente quentes."