Com informações da Agência Fapesp - 31/07/2023
Telhados verdes
Telhados verdes têm sido apontados como uma das possíveis soluções para o combate às mudanças climáticas nas cidades porque, além de permitirem a captação de água da chuva e a produção de hortaliças no alto dos edifícios, eles também são capazes de gerar um microclima, reduzindo a temperatura local e o gasto energético com ar-condicionado.
O que resta saber é se vale a pena fazer isto - ou, mais precisamente, em quais casos específicos vale a pena fazer isto.
Para tentar responder a esta questão, uma equipe internacional de pesquisadores criou um modelo capaz de mensurar os custos e os benefícios ambientais da implementação e do uso de telhados verdes como estruturas capazes de contribuir com os sistemas de alimentos, água e energia.
"Muito se fala sobre o impacto dos telhados verdes na sustentabilidade das cidades, mas qual é o real efeito dessas estruturas sobre recursos importantes, como água, alimentos e energia? Nesse estudo criamos um modelo para auxiliar os tomadores de decisão na análise de custos e benefícios dessas estruturas verdes urbanas.
"Verificamos de onde vêm os recursos de água, energia e alimentos de cada cidade e como a implementação de uma série de tetos verdes poderia beneficiar esses três sistemas. Para finalizar, testamos o modelo em cidades com características tão distintas quanto São José dos Campos, no Brasil, e Johanesburgo, na África do Sul," contou o professor Rodrigo Bellezoni, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que fez o trabalho em conjunto com colegas da China e dos EUA.
Inseridos os dados no modelo, os benefícios da implantação dos telhados verdes são calculados a partir de uma abordagem que leva em consideração a produção e o consumo de água, energia e alimentos, bem como as emissões de dióxido de carbono (CO2) associadas.
Vale a pena implantar telhado verde?
A comparação entre as duas cidades (São José dos Campos e Johanesburgo) mostrou que a implantação de telhados verdes precisa levar em conta uma série de fatores e especificidades locais.
Isto envolve desde questões elementares, como se há produção local das estruturas verdes que serão implementadas (ou se elas precisariam ser importadas), até uma compreensão mais aprofundada sobre as contrapartidas, por exemplo, se a energia utilizada na produção dos telhados verdes e no cultivo de hortaliças sobre essas estruturas compensaria o gasto energético envolvido no transporte de alimentos para a comercialização.
"Na simulação, mostramos que, nas duas cidades avaliadas, os telhados verdes são neutros em carbono. No entanto, encontramos maiores benefícios para a implantação dessas estruturas em São José dos Campos do que em Johanesburgo," contou José Puppim, membro da equipe.
Enquanto em São José dos Campos os modelos mostraram que a água da chuva captada pelos telhados verdes seria suficiente para compensar a irrigação local para a produção de alimentos, o mesmo não aconteceria em Johanesburgo. Na cidade africana, a demanda por água continuaria maior do que a capacidade de captação dos telhados verdes.
"Os resultados mostram que a implantação de um conjunto de telhados verdes em São José dos Campos reduziria significativamente o uso de água tratada para a irrigação, pois a tecnologia substituiria boa parte da demanda com a água coletada no teto verde. Em Johanesburgo, no entanto, sobretudo por questões de clima, os telhados verdes não eliminariam por completo a necessidade de irrigação de água de torneira, mas, é claro, diminuiriam essa demanda. Portanto, o resultado da análise de custo-benefício não é o mesmo para as duas cidades," explicou Bellezoni.
O modelo criado pela equipe pode ser aplicado a qualquer cidade, de qualquer país do mundo.