Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/07/2023
Planetas troianos
Usando dados do radiotelescópio ALMA, no Chile, uma equipe internacional de astrônomos acredita ter descoberto o primeiro caso de dois planetas que compartilham a mesma órbita.
A equipe detectou uma nuvem de detritos na órbita de um exoplaneta já conhecido, e essa nuvem pode ser formada pelos blocos constituintes de um novo planeta ou pelos restos de um planeta já formado.
Se for confirmada, esta descoberta será o primeiro caso de dois planetas que orbitam sua estrela no mesmo caminho, tornando-os planetas troianos, ou co-orbitais.
Os troianos, corpos rochosos na mesma órbita de um planeta, são comuns no nosso próprio Sistema Solar, sendo o exemplo mais famoso os asteroides troianos de Júpiter - mais de 12.000 corpos rochosos que se encontram na mesma órbita em torno do Sol que o gigante gasoso. Assim, não havia motivos para duvidar de que também pudessem existir planetas troianos, só que ninguém nunca havia conseguido observar um caso.
"Até agora, os exotroianos, planetas troianos exteriores ao nosso Sistema Solar, têm sido uma espécie de unicórnios, ou seja, apesar da teoria permitir que existam, nunca foram detectados," disse Jorge Lillo-Box, do Centro de Astrobiologia de Madrid, na Espanha.
O nome troianos surgiu quando da descoberta dos asteroides na órbita de Júpiter, que foram então batizados em homenagem aos heróis da guerra de Troia.
Dois planetas irmãos
O radiotelescópio ALMA captou os indícios dos exoplanetas troianos no sistema PDS 70. Já se sabia que essa jovem estrela tem pelo menos dois planetas gigantes, semelhantes a Júpiter, o PDS 70b e o PDS 70c.
Ao reanalisar observações, retiradas do arquivo científico do telescópio, Olga Balsalobre-Ruza, estudante do Centro de Astrobiologia de Madrid, detectou uma nuvem de detritos no local da órbita do PDS 70b, deslocada do planeta, onde se esperaria que se localizasse qualquer eventual planeta troiano.
Os troianos ocupam as chamadas zonas lagrangeanas, duas regiões extensas na órbita de um planeta onde a atração gravitacional combinada da estrela e do planeta pode reter material. Ao estudar estas duas regiões da órbita do PDS 70b, os astrônomos detectaram um sinal equivalente a uma nuvem de detritos com uma massa até cerca de duas vezes a da nossa Lua.
"Quem poderia imaginar dois mundos que partilham a duração do ano e as mesmas condições de habitabilidade? O nosso trabalho apresenta a primeira evidência de que tais mundos podem existir," disse Olga. "Podemos imaginar facilmente um planeta partilhando a sua órbita com milhares de asteroides, como é o caso de Júpiter, mas para mim é extraordinário pensar que dois planetas ou mais possam partilhar a mesma órbita".
Para confirmar sem margem de dúvida esta detecção, a equipe terá de aguardar até 2027, quando chegará sua vez na fila para utilizar o ALMA e investigar se tanto o PDS 70b como a sua nuvem de detritos irmã se deslocam em conjunto de forma significativa ao longo da órbita em torno da estrela.