Redação do Site Inovação Tecnológica - 24/09/2013
Estrela cadente
Depois de mais de quatro anos mapeando a gravidade terrestre, a sonda espacial GOCE está chegando ao fim de sua missão.
E, considerada uma das mais belas naves já fabricadas, seu fim será digno de uma estrela: ela vai se queimar ao reentrar na atmosfera.
O problema é que ela não vai queimar-se totalmente e, como sua reentrada não é dirigida, não se sabe onde ela cairá.
Enquanto a maior parte da sonda se desintegrará na reentrada, várias partes poderão atingir a superfície da Terra.
A ESA (Agência Espacial Europeia) afirma que não é possível prever onde e quando a GOCE cairá.
A reentrada deverá ocorrer cerca de três semanas depois de ter acabado o combustível da nave, porque sua órbita é muito baixa, pouco mais de 220 km de altitude, uma das mais baixas já usadas.
É devido a esta baixa altitude que a GOCE tem esse design "aerodinâmico", para minimizar o arrasto, que é significativo em uma órbita tão baixa.
Para se manter em uma órbita tão baixa, a sonda é impulsionada continuamente por um motor iônico, cujo combustível deverá acabar entre o final de Setembro e o início de Novembro - a data prevista é 16/17 de Outubro, com incerteza de duas semanas para mais ou para menos.
Lixo espacial
Levando-se em conta que dois terços da Terra estão cobertos por oceanos e uma área muito vasta está despovoada, o risco para a vida e para os bens materiais é muito baixo.
Quando da reentrada do satélite norte-americano UARS, em 2011, o risco de que ele atingisse alguém foi estimado em 1 em 3.200 - ele caiu no mar sem fazer vítimas.
Também em 2011, o telescópio espacial Rosat, da Agência Espacial Alemã, caiu no mar, em algum ponto da Baía de Bengala.
A GOCE é menor do que os dois, pesando pouco mais de uma tonelada.
Para comparação, a nave russa Phobos-Grunt, que iria a Marte, mas caiu no Pacífico logo após o lançamento, pesava 13 toneladas.
Na verdade, todos os anos cerca de 40 toneladas de lixo espacial atingem o solo, mas o tamanho e a dispersão dessas peças implicam que o risco individual de ser atingido por um destes pedaços é inferior ao de ser atingido por um meteorito, algo que ainda não se tem notícia de ter ocorrido.
Por outro lado, as naves e satélites mais recentes estão cada vez incorporando materiais mais resistentes, que podem suportar o calor da reentrada e chegar à superfície.
A ESA estima que cerca de 25% da GOCE deverá resistir à reentrada, atingindo a superfície terrestre - cerca de 250 quilogramas, distribuídos entre 40 e 50 pedaços.
Essa chuva de detritos deverá se espalhar por uma área de 900 quilômetros, considerada pequena pelos especialistas.
Geoide
A sonda GOCE - cujo nome completo é Explorador de Gravidade e da Circulação Oceânica - está em órbita da Terra desde Março de 2009.
Ela mapeou as variações na gravidade terrestre com um detalhamento extremo.
O resultado é um modelo único do geoide, que é essencialmente uma superfície virtual em que a água não escoa de um ponto para o outro.
O geoide é uma espécie de oceano global imaginário cuja superfície é ditada unicamente pela gravidade, na ausência de marés, correntes e quaisquer outras variações.
Seu formato de batata resulta exatamente da equalização da superfície do planeta para que todos os pontos tenham exatamente a mesma gravidade.