Com informações da New Scientist - 29/09/2023
Memória quente
Uma memória de computador capaz de suportar temperaturas superiores a 500 ºC pode ser a solução para equipar espaçonaves enviadas para explorar Vênus ou o Sol, ou mesmo para suportar com mais segurança os rigores do espaço em qualquer missão.
Os computadores utilizam uma tecnologia chamada memória não-volátil para armazenar dados mesmo depois de a fonte de alimentação ter sido desligada. Sem essa tecnologia, os computadores de hoje consumiriam demasiada energia para serem práticos - o chamado firmware, o software que sabe como fazer seu computador ligar, acionar todos os dispositivos, ler o sistema operacional e deixá-lo pronto para que você o utilize fica guardado em memórias desse tipo.
No entanto, mesmo os mais resilientes chips desse tipo não conseguem suportar temperaturas superiores a 300 °C, o que significa que, em ambientes extremos como a superfície de Vênus, que atinge 475 °C, eles precisam de ser protegidos com isoladores volumosos e caros para evitar falhas, o que complica o projeto das naves, aumenta seu custo e seu peso.
Agora, Dhiren Pradhan e colegas da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, testaram uma memória de computador feita de uma liga semicondutora de nitreto de alumínio e escândio.
O nitreto de alumínio e escândio é um material ferroelétrico, o que significa que ele consegue armazenar cargas elétricas. A equipe fez um sanduíche desse semicondutor, aplicando-lhe uma camada de platina e outra de níquel, uma de cada lado, que são capazes de suportar temperaturas muito altas.
A memória sobreviveu pelo menos 6 horas em temperaturas acima de 500 °C, sem perder os dados. Com base em extrapolações teóricas, a equipe tem razões para acreditar que a memória pode durar mais tempo e ainda suportar temperaturas mais elevadas, mas os aparelhos de medição do laboratório não conseguiram funcionar além desse nível de calor.
Eletrônica para Vênus
Ainda não está claro quanta informação a memória consegue armazenar, já que a equipe não testou isso. Mas ela pode ser extremamente fina, o que sugere que ela possui uma densidade de informação bastante alta, de até alguns kilobytes. O material também é compatível com dispositivos de computação de carbeto de silício, que são os eletrônicos de alta temperatura mais comumente usados hoje.
"Qualquer espaçonave que você enviar para mais longe, para sondar o Sol ou algo parecido, experimentará temperaturas elevadas. Se você quiser se livrar da embalagem e do resfriamento para economizar peso e energia, esta [memória] seria bastante apropriada," disse o professor Deep Jariwala, coordenador da equipe.
A NASA trabalha há alguns anos em uma eletrônica que possa funcionar a bordo de uma nave em Vênus, baseada em carbeto de silício. O objetivo daquela agência espacial é chegar a uma eletrônica capaz de funcionar a 500 ºC, um parâmetro que foi superado nesta demonstração.