Redação do Site Inovação Tecnológica - 12/08/2021
Asteroide bilionário?
Astrônomos conseguiram fazer o primeiro mapa de temperatura de um asteroide distante, um passo importante para resolver o mistério da origem deste objeto incomum, considerado por alguns como um pedaço do núcleo de um protoplaneta destruído no início da história do Sistema Solar.
O corpo celeste é o asteroide 16 Psique (Psyche), que orbita o Sol entre Marte e Júpiter, e que será visitado por uma sonda espacial da NASA a ser lançada em Julho de 2022.
Com um diâmetro de mais de 200 km, Psique (ou Psiquê) é o maior asteroide conhecido do tipo M, uma classe enigmática de asteroides que se acredita serem ricos em metais e, portanto, podem ser pedaços dos núcleos de protoplanetas que se fragmentaram conforme o Sistema Solar se formava.
E ele se tornou conhecido do público justamente por esse conteúdo metálico. Para chamar a atenção para a importância da missão Psique, alguns cientistas começaram a fazer cálculos sobre o valor que o asteroide teria se ele pudesse ser posto na superfície da Terra, concluindo que ele poderia tornar cada habitante da Terra um bilionário.
É claro que essa conclusão é fantasiosa, uma vez que o que dá valor aos metais é, em última instância, a sua escassez; logo, se tivéssemos uma fonte inesgotável de qualquer um deles, seu valor cairia para pouco mais do que o custo de seu beneficiamento - e isso vale do ferro e do níquel até o ouro ou a platina.
Mas o valor de estudar o que potencialmente é o núcleo de um planeta continua extremamente elevado.
Inércia térmica e emissão térmica
Normalmente, as observações térmicas feitas a partir da Terra - que medem a luz emitida por um objeto em si, em vez da luz do Sol refletida por esse objeto - estão em comprimentos de onda infravermelhos, que geram apenas imagens de asteroides de 1 píxel (uma cor). Esse píxel, entretanto, revela muitas informações; por exemplo, pode ser usado para estudar a inércia térmica do asteroide, ou quão rápido ele se aquece na luz do Sol e esfria na escuridão.
"A baixa inércia térmica normalmente está associada a camadas de poeira, enquanto a alta inércia térmica pode indicar rochas na superfície"," disse Saverio Cambioni, da Caltech, nos EUA. "No entanto, distinguir um tipo de paisagem do outro é difícil."
A saída encontrada pela equipe foi observar cada localização da superfície em muitas horas do dia usando o radiotelescópio ALMA, o que permite uma interpretação com menos ambiguidade e fornece uma previsão mais confiável do tipo de superfície do asteroide.
O radiotelescópio permitiu mapear as emissões térmicas de toda a superfície de Psique com uma resolução de 30 km (onde cada pixel é de 30 km por 30 km) e gerar uma imagem do asteroide composta por cerca de 50 píxeis. Isso foi possível porque o ALMA observou Psique em comprimentos de onda milimétricos, que são mais longos (variando de 1 a 10 milímetros) do que os comprimentos de onda infravermelho (normalmente entre 5 e 30 micrômetros).
"Eu já sabia"
O estudo confirmou que a inércia térmica de Psique é alta em comparação com a de um asteroide típico, indicando que Psique tem uma superfície anormalmente densa ou condutiva. Já a emissão térmica - a quantidade de calor que Psique irradia - é apenas 60% do que seria esperado de uma superfície típica com essa inércia térmica.
Como a emissão superficial é afetada pela presença de metais na superfície, os dados indicam que a superfície de Psique não é menos do que 30% de metal. E uma análise da polarização da emissão ajudou os pesquisadores a determinar aproximadamente a forma que esse metal assume: Uma superfície sólida lisa emite luz polarizada bem organizada; a luz emitida por Psique, no entanto, é espalhada, sugerindo que sua superfície é composta por rochas salpicadas de grãos metálicos.
Isso complica ainda mais a noção sensacionalista divulgada antes, que passava a impressão de uma "barra de metais valiosos puros flutuando no espaço". Com os novos dados, e como sempre acontece nesses casos, os cientistas atualizaram seu discurso.
"Há muitos anos sabemos que os objetos dessa classe não são, de fato, metal sólido, mas o que são e como se formam ainda é um enigma," disse a professora Katherine de Kleer.
De fato, os resultados reforçam propostas alternativas para a composição da superfície de Psique, incluindo que o corpo celeste poderia ser um asteroide primitivo que se formou mais perto do Sol do que está hoje, em vez de um núcleo de um protoplaneta que se fragmentou.
Por sorte, essa questão poderá ser elucidada em muito pouco tempo, pela missão Psique.