Redação do Site Inovação Tecnológica - 09/10/2023
Maior tempestade solar conhecida
Uma equipe internacional de cientistas descobriu um aumento gigantesco nos níveis de radiocarbono, ocorrido há 14.300 anos, ao analisar anéis de crescimento de árvores antigas.
Os anéis dos troncos de antigas árvores em processo de fossilização, encontradas nos Alpes franceses, revelam um pico inédito nos níveis de radiocarbono (14C, ou carbono-14).
O pico de radiocarbono foi causado por uma enorme tempestade solar, a maior já identificada. Se ocorresse hoje, uma tempestade solar semelhante seria catastrófica para nossa sociedade tecnológica, potencialmente destruindo os sistemas de telecomunicações e de satélite e causando enormes apagões na rede elétrica.
Os troncos das árvores, que são subfósseis - restos cujo processo de fossilização não está completo -, foram cortados em minúsculos pedaços para permitir o estudo dos seus anéis de crescimento. Foi esta análise que revelou o pico sem precedentes nos níveis de radiocarbono.
Ao comparar esse pico de radiocarbono com medições de berílio, um elemento químico encontrado em núcleos de gelo da Groenlândia, a equipe propõe que o pico foi causado por uma enorme tempestade solar que teria ejetado enormes volumes de partículas energéticas na atmosfera da Terra.
"O radiocarbono é constantemente produzido na alta atmosfera através de uma cadeia de reações iniciadas pelos raios cósmicos. Recentemente, os cientistas descobriram que eventos solares extremos, incluindo erupções solares e ejeções de massa coronal, também podem criar explosões de curto prazo de partículas energéticas que são preservadas como picos gigantescos na produção de radiocarbono ocorrendo ao longo de apenas um ano," disse o professor Edouard Bard, da Universidade Aix-Marseille, na França.
Eventos Miyake
Já foram identificadas nove dessas tempestades solares extremas ocorrendo nos últimos 15.000 anos. Hoje conhecidas como "Eventos Miyake", as mais recentes ocorreram em 993 DC e 774 DC. A tempestade agora descoberta, ocorrida há 14.300 anos, é a maior já encontrada, com aproximadamente o dobro da energia destas duas.
O nome dessas tempestades catastróficas se deve ao pesquisador Fusa Miyake, da Universidade de Nagoia, no Japão, que descobriu o evento do ano 774 da nossa era, que até agora era o maior conhecido.
A natureza exata desses Eventos Miyake ainda é pouco compreendida pela ciência, uma vez que nunca foram diretamente observados por meio de instrumentos. O nosso conhecimento sobre o comportamento do Sol e os perigos que suas tempestades representam para a sociedade na Terra também só começaram a ser desvendados por sondas espaciais neste século, e ainda não possuímos dados de longo prazo para uma interpretação mais detalhada de cada evento. Por exemplo, não sabemos o que causa tais tempestades solares extremas, com que frequência podem ocorrer ou se podemos de alguma forma prevê-las.
"As medições instrumentais diretas da atividade solar só começaram no século XVII, com a contagem das manchas solares. Hoje em dia também obtemos registros detalhados por meio de observatórios terrestres, sondas espaciais e satélites. No entanto, todos estes registros instrumentais de curto prazo são insuficientes para uma compreensão completa do Sol. O radiocarbono medido nos anéis de árvores, usado juntamente com o berílio em núcleos de gelo polar, fornece a melhor maneira de compreender o comportamento do Sol no passado," disse Bard.
A maior tempestade solar observada - mas ainda sem instrumentos - ocorreu em 1859 e é conhecida como Evento Carrington, que causou perturbações massivas na Terra, destruindo máquinas telegráficas e criando uma aurora noturna tão brilhante que os pássaros começaram a cantar à noite, acreditando que o Sol tinha começado a nascer. Os cientistas calculam que a tempestade recém-descoberta foi duas vezes maior.