Com informações da ESA - 05/10/2016
Campo magnético da Terra
Que a Terra possui um campo magnético é algo bem estabelecido porque é possível medi-lo.
Mas o que gera esse campo magnético é algo que a ciência ainda luta por descobrir.
Já sabemos que o campo magnético tem origem em diferentes partes da Terra e que cada uma dessas fontes gera um magnetismo de intensidade diferente. Já sabemos também que o campo magnético da Terra está enfraquecendo. Mas exatamente como ele é gerado e por que ele tem intensidades diferentes é algo por se esclarecer.
Foi em busca de novos conhecimentos nesta área que, em 2013, a ESA (Agência Espacial Europeia) lançou o seu trio de satélites Swarm.
Agora, os dados dos três observatórios trouxeram informações sobre uma fonte de magnetismo em nosso planeta que poucos se dão conta: as marés oceânicas.
E, de forma um tanto surpreendente, os primeiros dados, que ainda precisarão ser monitorados por um prazo mais longo para ajudar na questão do magnetismo terrestre, trouxeram informações inéditas sobre o interior da Terra e o funcionamento das placas tectônicas.
Magnetismo das marés oceânicas
Graças às medições de grande precisão da missão Swarm, pareadas com as da missão Champ - uma missão que terminou em 2010, depois de medir os campos gravitacionais e magnéticos da Terra por mais de 10 anos - os cientistas conseguiram "pinçar" o campo magnético gerado pelas marés dos oceanos no meio dos dados, um feito inédito, que ajuda a entender um pouco da variabilidade do nosso escudo protetor.
Mas o melhor estava por vir: a equipe descobriu que o campo magnético gerado pelo movimento dos oceanos funciona como uma "bobina de acoplamento" que permite fazer um retrato da natureza elétrica do manto superior da Terra, centenas de quilômetros abaixo do fundo do oceano.
Quando a água salgada do mar flui através do campo magnético terrestre, esse movimento gera uma corrente elétrica que, por sua vez, induz uma resposta magnética que adentra profundamente, abaixo da crosta terrestre, atingindo o manto.
"Os satélites Swarm e Champ permitiram que distinguíssemos entre a litosfera 'rígida' do oceano e a 'astenosfera' mais flexível por baixo," explicou Alexander Grayver, do ETH de Zurique, na Suíça.
Campo magnético e placas tectônicas
"Estes novos resultados são importantes para a compreensão das placas tectônicas, a teoria que argumenta que a litosfera da Terra consiste em placas rígidas que deslizam sobre a astenosfera mais quente e menos rígida e que serve como um lubrificante, permitindo o movimento das placas," disse Grayver.
A litosfera é a parte externa rígida da Terra, que consiste na crosta e no manto superior, enquanto a astenosfera fica logo abaixo da litosfera e é mais quente e mais fluida do que a litosfera.
"O trabalho mostra que, até cerca de 350 km abaixo da superfície, o grau no qual o material conduz correntes elétricas está relacionado com a composição [da crosta]. Além disso, a análise mostra uma clara dependência da configuração tectônica da placa oceânica. Estes novos resultados indicam também que, no futuro, poderemos ter uma visão completa 3D da condutividade abaixo do oceano," disse Roger Haagmans, cientista da missão Swarm.
"Temos muito poucas formas de explorar profundamente a estrutura do nosso planeta, mas a Swarm está dando uma contribuição valiosa para a compreensão do interior da Terra que aumenta o nosso conhecimento de como a Terra funciona como um sistema num todo," completou Rune Floberghagen, diretor da missão Swarm.