Com informações do MIT - 31/01/2020
Leis da física que explicam a política
Pode parecer surpreendente, mas as teorias e fórmulas derivadas da Física podem ser ferramentas úteis para entender como as eleições democráticas funcionam, incluindo como esses sistemas deixam de cumprir suas promessas e como podem ser melhorados.
Alexander Siegenfeld (MIT) e Yaneer Bar-Yam (Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra) pegaram dados político-eleitorais e os analisaram usando como ferramentas várias leis da física bem conhecidas. E demonstraram como essas leis podem ser usadas para descrever o comportamento dos dados.
A aplicação de várias das fórmulas da Física ao sistema eleitoral dos EUA revelou que as eleições passaram por uma transição em 1970, de uma condição em que os resultados das eleições capturavam razoavelmente bem as maiores preferências políticas do eleitorado, para um período de crescente instabilidade, em que mudanças muito pequenas nas preferências dos eleitores levaram a mudanças significativas em direção a resultados políticos mais extremos nas duas direções.
Os dois físicos descobriram que o modelo de Ising, desenvolvido para explicar o comportamento dos ferromagnetos e outros sistemas físicos, é matematicamente equivalente a certos modelos de eleições e descreve com precisão o início da instabilidade nos sistemas eleitorais.
Nesse regime de eleições "instáveis", "uma pequena mudança na opinião do eleitorado pode alterar drasticamente o resultado das eleições, assim como a direção de um pequeno empurrão em uma pedra no topo de uma colina pode mudar drasticamente sua localização final," disse Siegenfeld.
"O que aconteceu em 1970 é uma transição de fase tal como ocorre com a fervura da água. As eleições passaram de estáveis para instáveis," acrescentou Bar-Yam.
Representação negativa
A análise mostra que essa instabilidade pode ser associada a uma situação inesperada na qual os resultados oscilam na direção oposta de como as verdadeiras preferências das pessoas estão mudando. Ou seja, um pequeno movimento nas opiniões predominantes em direção à esquerda pode resultar em um resultado mais à direita e vice-versa - uma situação que os pesquisadores chamam de "representação negativa".
"Nosso país parece mais dividido do que nunca, com os resultados das eleições parecendo um pêndulo balançando com força cada vez maior," disse Siegenfeld.
Essa mudança de longo prazo, de uma situação eleitoral estável para outra situação marcada pela instabilidade, se assemelha ao que acontece com um metal ferromagnético exposto a um campo magnético, acrescenta Siegenfeld, e pode ser descrita pelas mesmas fórmulas matemáticas.
Prever o todo sem conhecer as partes
Mas por que as fórmulas derivadas para assuntos tão diferentes podem ser relevantes para o campo político?
Siegenfeld afirma que é porque na Física nem sempre é necessário conhecer os detalhes dos objetos ou mecanismos subjacentes para poder produzir resultados úteis e significativos. Ele compara isso com o modo como os físicos foram capazes de descrever o comportamento das ondas sonoras - que são essencialmente os movimentos agregados dos átomos - com grande precisão, muito antes de saberem da existência dos átomos.
"Quando aplicamos a Física para entender as partículas fundamentais do nosso Universo, na verdade não conhecemos os detalhes subjacentes das teorias," disse ele. "No entanto, ainda podemos fazer previsões incrivelmente precisas".
Da mesma forma, os pesquisadores não precisam entender os motivos e opiniões de cada eleitor individualmente para poder realizar uma análise significativa do seu comportamento coletivo.
Como afirma o artigo da dupla, "a compreensão do comportamento coletivo dos sistemas sociais pode se beneficiar de métodos e conceitos da Física, não porque os seres humanos sejam similares aos elétrons, mas porque certos comportamentos em larga escala podem ser entendidos sem a compreensão dos detalhes em pequena escala."