Sabine Righetti - Agência Fapesp - 26/06/2008
"A inovação tecnológica, ou seja, a introdução no mercado de um novo produto ou novo processo, é uma atividade que não envolve somente o setor de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de uma empresa e, tampouco, é uma atividade realizada unicamente por grandes corporações", disse Henry Chesbrough, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos.
Inovação aberta
Criador do conceito de "inovação aberta", Chesbrough comandou a primeira edição do Open Innovation Seminar, realizada em São Paulo, que reuniu cerca de 400 empresários e especialistas no assunto.
O conceito de inovação aberta entende o processo de inovação como uma atividade difusa, que pode envolver e integrar profissionais de diferentes setores de uma ou mais empresas e de universidades e institutos de pesquisa, por meio de redes sociais.
Até então, inovação era vista como um sistema quase linear e interno que, do ponto de vista do setor produtivo, começava em uma idéia gerada dentro do departamento de P&D e seguia até o desenvolvimento do produto e sua introdução no mercado.
Redes empresariais
"Hoje, as empresas devem criar redes, desenvolver parcerias e aceitar idéias externas, vindas de outras empresas ou da universidade", disse Chesbrough, que define essa estratégia como a definição de uma espécie de "ecossistema de inovação".
A troca de idéias e o trabalho realizado em parceria nesse ecossistema, segundo ele, favorece as pequenas e médias empresas, que podem fornecer produtos, desenvolver P&D para empresas maiores e, desse modo, conquistar um pequeno nicho de mercado. "Não precisa ser grande para ser bom", repetiu Chesbrough, quase em mantra, durante o seminário.
Chesbrough foi professor da Harvard Bussiness School de 1997 a 2003. Seus dois principais livros sobre o tema, Open Business Models: How to Thrive in the New Innovation Landscape (2003) e Open Innovation: the new imperative for creating and profiting from technology (2006), ainda não têm tradução para o português.
Bons exemplos nacionais
No caso específico do Brasil, a necessidade de políticas públicas e de leis específicas para as pequenas e médias empresas foi ressaltada, o que talvez represente uma diferença crucial entre o cenário brasileiro e o norte-americano, na opinião do professor de Berkeley.
Nessa discussão, Eduardo Costa, diretor de inovação da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ressaltou algumas políticas que existem na instituição, como os programas de apoio às micro e pequenas empresas inovadoras (com faturamento anual de até R$ 10,5 milhões).
Segundo Costa, as entidades de classe que representam essas empresas têm um papel fundamental na definição de novas políticas: "Precisamos de mais idéias e menos críticas", disse.
Incentivo governamental
Outro bom modelo no cenário brasileiro é o programa Pesquisa Inovativa na Pequena e Micro Empresa (Pipe), da FAPESP, que se destina a apoiar o desenvolvimento de pesquisas inovadoras que tenham alto potencial de retorno comercial ou social e já atendeu a mais de 720 empresas.
Inovação na IBM
Um exemplo na prática do ecossistema de inovação proposto por Chesbrough foi apresentado no Open Innovation Seminar pela IBM, empresa com cerca de 350 mil funcionários em todo o mundo (sendo 15 mil no Brasil) e que, em 2007, registrou mais de 3 mil patentes.
A IBM promoveu recentemente encontros com cerca de 150 mil funcionários, não necessariamente ligados à P&D, para discutir idéias. O resultado foram 40 mil sugestões, que deram origem a 15 grandes projetos. "Estamos saindo do modelo tradicional de inovação, ou seja, do sistema de inovação fechada", contou Cezar Taurion, gerente de novas tecnologias aplicadas da IBM Brasil.