Com informações da BBC - 18/10/2015
Objeto piscante
Um foco de luz localizado entre as constelações de Lira e Cisne está fazendo os astrônomos coçarem a cabeça: parece uma estrela, mas a fonte de luz comporta-se de modo muito diferente desses corpos celestes.
Essa "anomalia" do espaço foi flagrada pelo telescópio espacial Kepler, especializado na busca por exoplanetas, e foi identificada por cientistas amadores de um programa de ciência cidadã que ajuda a filtrar as informações enviadas pelo telescópio.
Os pesquisadores perceberam que a estrela encontrada, chamada KIC 8462852, tem o estranho hábito de diminuir a intensidade do seu brilho em intervalos irregulares.
Para se ter uma ideia de o quanto essa característica é única, entre as outras cerca de 150 mil estrelas avistadas pelo telescópio, esta é a única que se comporta dessa maneira.
Estrela de brilho variável
Em geral, quando há uma redução temporal da luminosidade produzida, é porque um planeta está passando diante de sua estrela - no que seria uma volta da sua órbita.
Essa característica seria a comprovação de que existiria um planeta ali. A frequência dessas quedas na intensidade do brilho da estrela - que são regulares - corresponderia à duração de sua órbita.
Mas, no caso específico dessa estrela, os intervalos observados foram completamente irregulares, tanto em termos de frequência quanto de intensidade.
Em 2009, por exemplo, foram registradas pequenas quedas na produção de luz. Depois houve outra queda assimétrica que durou uma semana em 2011 e, mais recentemente, uma série de quedas durante três meses em 2013 - algumas dessas variações chegaram a 20% da intensidade de luz da estrela.
Diante de tais características, os cientistas acabaram descartando a possibilidade de a anomalia representar a presença de um novo planeta.
Além disso, a hipótese foi ignorada também porque a intensidade da queda de luz é muito grande: mesmo que fosse um planeta do tamanho de Júpiter (o maior do nosso Sistema Solar), a luz da KIC 8462852 poderia ser reduzida somente em 1%.
Então, como se explica esse fenômeno?
Especulações
Tabetha Boyajian, astrônoma da Universidade de Yale, nos Estados Unidos - instituição que lançou o programa de ciência cidadã Planet Hunters em 2010 -, liderou um estudo recentemente sobre as possíveis causas.
Mas, conforme reconhece a própria equipe, cada uma dessas hipóteses têm um ponto frágil: "Nós estamos quebrando a cabeça: para cada ideia que surgia sempre havia algum argumento contrário", explicou Boyajian.
A princípio, a equipe descartou a possibilidade de a "estrela bizarra" representar uma falha de processamento de dados no telescópio.
Eles também eliminaram a hipótese de ser uma estrela jovem, que está em processo de acumular massa e, por isso, estaria rodeada por uma nuvem de poeira, o que poderia explicar a irregularidade de seu brilho.
O estudo conclui que a explicação mais factível pode estar em um grupo de exocometas - cometas orbitando estrelas que não o Sol - que se aproximaram da estrela e se romperam por causa da gravidade, deixando enormes quantidades de poeira e gás no processo.
Se os cometas se movimentam em uma órbita que os faz passar na frente do planeta a cada 700 dias aproximadamente, seus fragmentos, que ainda estão se desprendendo no espaço, poderiam explicar a diminuição irregular do brilho percebida pela sonda Kepler.
A única maneira de checar essa teoria seria conseguindo mais informações, mas desde que o telescópio Kepler parou de funcionar corretamente, em 2013, ficou mais difícil obter dados.
Tecnoassinatura de extraterrestres?
A hipótese mais surpreendente levantada pelos cientistas é de a "anomalia" encontrada no espaço representar um sinal de vida extraterrestre inteligente.
Intrigada com a questão, Boyajian compartilhou os resultados do seu estudo com Jason Wright, cientista da Universidade do Estado da Pensilvânia e membro de uma organização que investiga exoplanetas e mundos habitáveis.
A opinião dele abre portas a possibilidades mais ousadas. Segundo Wright, se nenhuma das razões acima mencionadas é convincente, por que não pensar que o fenômeno poderia ser causado por uma série de megaestruturas equipadas com painéis solares - e que teriam sido construídas por extraterrestres?
"Quando (Boyajian) me mostrou as informações, eu fiquei fascinado, porque parecia algo bizarro," disse Wright ao site The Atlantic. "Alienígenas sempre devem ser a última hipótese a se considerar, mas isso parecia ser algo que uma civilização de extraterrestres poderia construir".
Os cientistas que acreditam na existência de vida inteligente - ou ao menos na possibilidade disso - fora do nosso planeta sustentam que uma civilização alienígena avançada se caracterizaria muito provavelmente por sua capacidade de obter energia de seu sol, e não da exploração de outros recursos do seu próprio planeta.
Boyajian e Wright, porém, advertem que essa hipótese ainda é muito remota e deve ser analisada com cautela - ainda que seja válida e digna de investigação. E para isso, vão apresentar uma proposta para apontar um telescópio para a estrela e analisá-la de maneira minuciosa. Se tudo der certo, as primeiras análises deverão ser feitas em janeiro do próximo ano.
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