Redação do Site Inovação Tecnológica - 23/06/2014
Atualização - 04/02/15
A alegada descoberta objeto desta reportagem foi efetivamente retratada pelos cientistas:
O conteúdo deste artigo não sofreu alterações.
Inflação de resultados
Em Março deste ano, uma equipe de astrofísicos norte-americanos anunciou ter detectado ondas gravitacionais que reforçariam a teoria do Big Bang, seriam a primeira comprovação experimental da inflação cósmica e, além disso, confirmariam uma "profunda conexão entre a mecânica quântica e a relatividade geral".
Não por acaso, os resultados foram saudados como a "descoberta do século".
Mas não demorou muito para que outros pesquisadores começassem a apontar falhas no método utilizado pelos pesquisadores do observatório BICEP2 (Background Imaging of Cosmic Extragalactic Polarisation), um radiotelescópio instalado no Pólo Sul.
Agora, finalmente o estudo foi publicado em uma revista científica, no qual a equipe sustenta seus resultados, mas admite que todo o efeito detectado pode ser devido à poeira cósmica da nossa própria galáxia.
Em Março, a equipe afirmava ter encontrado indícios - eles chamaram de "primeira evidência direta" - da inflação cósmica, a expansão exponencial do Universo que teria ocorrido na primeira fração de segundo após o Big Bang.
Esses indícios apareceram na forma de um padrão de polarização, chamado "modos-B", na radiação cósmica de fundo, que os pesquisadores interpretaram como sendo produzido por ondas gravitacionais primordiais, ondulações no espaço-tempo criadas pelo surto de crescimento do Universo - veja mais detalhes do mecanismo na reportagem:
Uso de dados preliminares
Contudo, dando razão aos críticos, a equipe do BICEP2 agora admite que esses padrões de polarização podem ter sido gerados pela poeira cósmica presente na nossa galáxia - a poeira cósmica, restos de estrelas que explodiram e mesmo alguns corpos celestes podem polarizar a luz no mesmo padrão que eles detectaram.
Todo o argumento inicial começou a ser desmontado quando a equipe do telescópio espacial Planck fez um anúncio preliminar dos seus próprios resultados - que se espera serem mais precisos - e mostrou que o peso representado pela poeira cósmica na geração da polarização era muito maior do que eles haviam considerado.
A equipe do Planck não mostrou dados referentes à região do céu pesquisada pela equipe do BICEP2, que então admitiu ter usado dados de uma apresentação em formato pdf feita anteriormente pela equipe do Planck durante uma conferência, sem ter tido acesso aos dados originais.
Sintomaticamente - talvez para ter tempo de revisar melhor os dados - a equipe do Planck retirou de sua nova apresentação a porção do céu que a equipe do BICEP2 usou.
"Embora estes artigos [da equipe do Planck] não ofereçam informações definitivas sobre o nível de contaminação por poeira em nosso campo [parte do céu que a equipe analisou], eles sugerem que a contaminação pode muito bem ser superior a qualquer um dos modelos considerados," escreveu a equipe do BICEP2 na versão do seu artigo que agora foi publicada.
Mensuração da incerteza
De qualquer forma, ainda que a "descoberta" agora pareça se transformar em poeira, o estudo está longe de perder sua importância, tendo chamado a atenção para uma possibilidade real de detecção das ondas gravitacionais primordiais.
Com isso, nada menos do que oito experimentos estão neste momento fazendo suas próprias medições e tentando eliminar as incertezas do BICEP2.
A maior expectativa gira em torno dos estudos da equipe do Planck, que deverá apresentar seus resultados definitivos - incluindo a área estudada pelo BICEP2 - em outubro.
A grande pergunta que deverá ser respondida por estes novos estudos é: Qual o percentual da polarização de modos-B detectada pode ser atribuído à poeira cósmica?
Somente esse número dirá se a polarização de modos-B pode ou não ser considerada indicativa de alguma coisa.