Com informações do CNRS - 23/10/2024
Guia para falar com extraterrestres
Nós devemos fazer contato com extraterrestres que por acaso existam pelo Universo, ou será que devemos evitar um contato com alienígenas porque isso seria perigoso para a humanidade?
Esta é uma questão em aberto, mas aqueles que apostam na primeira opção já trabalham em protocolos para o nosso "primeiro contato".
Esta também é a ocupação do professor Frédéric Landragin, um linguista da Universidade de Sorbonne, na França, que publicou recentemente um guia sobre a comunicação interestelar, conhecida como xenolinguística ou astrolinguística.
Nesta entrevista, ele fala tudo o que pensa a respeito do assunto, e apresenta um resumo do seu "guia para falar com extraterrestres".
Você é o autor do Guia para Comunicação Interestelar: Astrolinguística, Exploração Espacial, Ficção Científica, publicado pela editora da Universidade Grenoble Alpes. Como você se interessou pela astrolinguística?
Frédéric Landragin: Como linguista, este é um assunto que explorei adotando uma abordagem de ciência popular. Eu escrevi um livro intitulado Como falar com um alienígena (Éditions du Bélial, 2018), que é uma introdução à linguística para leitores que gostam de ficção científica. Procurei analisar várias referências, como os filmes Contato e Chegada, pelo prisma desta disciplina. O livro teve um pequeno sucesso, e continuei meu trabalho em astrolinguística, sempre fazendo isso como um divulgador. Deve-se ressaltar que [meu livro anterior] não é absolutamente ciência, mas sim os esforços de alguns excêntricos ao redor do mundo. O trabalho deles é, no entanto, fascinante, porque levanta questões cruciais como "O que é uma linguagem?" ou "Pode existir uma linguagem universal?"
Mas por que tentar se comunicar com seres sobre os quais não sabemos nada, nem mesmo se eles existem?
Frédéric Landragin: Esta é uma questão essencial para a humanidade: Estamos sozinhos no Universo? Existe outro planeta onde a vida se desenvolveu, ou mesmo milhões de outros?
Esta é uma questão de girar a cabeça, porque é terrível, independentemente da resposta. Se a vida existe apenas na Terra, então temos uma tremenda responsabilidade. Se a vida existe em outro lugar, então estamos enfrentando algo que coloca as religiões em questão. Em ambos os casos, a resposta é muito difícil de digerir. No entanto, essa busca motivou algumas pessoas a tentar enviar mensagens para outros planetas e a refletir sobre que forma de mensagem poderia ser entendida por alienígenas.
Como concretamente você lida com falar com uma entidade sobre a qual não sabe nada?
Frédéric Landragin: No início do século XX, os pioneiros começaram simplesmente tentando sinalizar nossa presença. Eles imaginaram acender fogueiras em trincheiras para delinear grandes sinais visíveis da Lua ou de Marte. Eles então perceberam que - sem querer - já havíamos sinalizado nossa presença por meio de emissões de rádio e televisão, que alcançam distâncias muito maiores do que aquelas exploradas pelas sondas Pioneer e Voyager. Desde a década de 1960, o objetivo tem sido enviar mensagens que vão além de simplesmente sinalizar nossa presença, mensagens que transmitem conteúdo semântico. Os astrolinguistas então entraram no jogo e começaram a refletir sobre formas de linguagem artificial que sejam universalmente compreensíveis, sem ambiguidade ou polissemia.
Eles primeiro enviaram mensagens simples ecoando as ideias do astrônomo Carl Sagan, que aparecem no filme Contato. Então veio uma mensagem de 20 páginas: Ela começa com números e depois passa para números primos, os operadores matemáticos de adição e multiplicação e, finalmente, igualdade e verdadeiro ou falso. Após essas preliminares, ele introduz a noção de uma pergunta, e então faz uma série delas, como "Qual é a massa do seu planeta?", "Quão grande você é?", etc.
Tudo isso é feito usando uma linguagem extremamente simples, na qual cada pergunta foca em um único conceito. A mensagem é muito básica, não há frases e nenhuma sintaxe, mas tem a vantagem de fazer perguntas, em vez de simplesmente sinalizar uma presença. E é isso que a torna interessante.
Mas não é perigoso entrar em contato com os habitantes de outros planetas?
Frédéric Landragin: É importante não nos iludirmos, pois mesmo que haja vida em outros planetas, há muito pouca chance de que nossas mensagens sejam recebidas e que uma resposta retorne. E, se for esse o caso, a resposta levaria um tempo enorme para chegar até nós.
Então sim, para responder à sua pergunta, pode ser perigoso. Especialmente se mantivermos a história humana em mente, que consiste em civilizações sendo exterminadas por outras, e ainda mais quando imaginamos alienígenas equipados com tecnologias altamente avançadas. Cientistas recomendaram que parássemos de enviar mensagens enquanto toda a humanidade não concordasse em sinalizar nossa presença. Este é, no entanto, um medo muito antropocêntrico, um medo que pressupõe que os alienígenas raciocinem como os humanos, o que, é claro, não sabemos de modo algum.
Esse antropocentrismo se reflete no fato de que, em vez de enviar mensagens construídas a partir de línguas supostamente universais, na maioria das vezes usamos amostras consideradas representativas das culturas humanas, sem nenhuma outra forma de explicação. Por exemplo, partimos do princípio de que sons que podem ser ouvidos pelo ouvido humano também seriam ouvidos por alienígenas, mas nada garante que alienígenas possam ouvir.
Quais dificuldades surgem no desenvolvimento de mensagens mais complexas que transmitam significado?
Frédéric Landragin: O problema principal é que não há um terreno compartilhado, o que significa que não há conhecimento compartilhado com potenciais extraterrestres que forneceria uma base para a construção de uma mensagem. Este terreno compartilhado deve, portanto, ser construído passo a passo. Começando com o princípio de que a matemática é a linguagem mais universal disponível para nós, isso foi tentado com uma mensagem que gradualmente introduz números primos, operadores matemáticos e lógicos, etc.
Ainda assim, continuamos incapazes de codificar verbos como falar, andar, comer, etc. Não é possível porque não vemos extraterrestres, e eles não nos veem; então não podemos mostrar a eles uma ação que estamos fazendo e ao mesmo tempo nomear a ação, como ocorre no filme A Chegada, em que a linguista Louise Banks pede a um físico para andar, e simultaneamente escreve "Ian está andando" no quadro-negro. Ainda precisaríamos codificar um vídeo com uma mensagem de uma pessoa andando, e combiná-lo com um símbolo representando o verbo "andar". Isso é extremamente demorado e tedioso, com alto risco de ambiguidade e mal-entendidos. Por enquanto, os astrolinguistas decidiram pular esses verbos, e em vez disso se comunicar por meio de noções matemáticas e lógicas.
Nos últimos cinquenta anos não houve muito progresso, e a NASA é a única a fornecer um pouco de financiamento, principalmente para a pesquisa conduzida por Douglas Vakoch. Mas isso não evoluiu muito, e mantemos as ideias básicas de Sagan, que envolvem o envio de pulsos correspondentes a números primos, ou seja, séries de pulsos que só podem ser artificiais, e não têm nada a ver com o ruído de fundo no espaço.
A matemática desempenha um papel importante na construção de mensagens interestelares, mas a astrolinguística usa outras disciplinas?
Frédéric Landragin: Durante a década de 1970, houve uma conferência pioneira que reuniu os soviéticos e os norte-americanos. Foram convidados especialistas de múltiplas disciplinas, incluindo astrofísicos, linguistas, especialistas em comunicação, lógicos e especialistas em inteligência artificial, embora houvesse poucos na época. Para resumir, [reuniram-se] as ciências cognitivas, juntamente com antropólogos e etnólogos. A linguística no final não estava particularmente presente, com apenas alguns princípios básicos sendo retidos, já que tudo que envolve morfologia ou sintaxe não serve realmente a um propósito.
A pesquisa astrolinguística poderia, inversamente, lançar luz sobre a linguagem humana?
Frédéric Landragin: Na verdade não, já que não há nenhum valor agregado potencial, especialmente porque a astrolinguística não pode ser considerada uma ciência completa, já que não temos como confirmar suas hipóteses. A única maneira de fazer isso seria que potenciais extraterrestres respondessem, e que determinássemos o que eles entenderam ou não. Mas isso continua impossível por enquanto.