Da New Scientist - 10/07/2012
Rumo às profundezas da Terra
Desde meados do século 20, os geólogos têm realizado furos cada vez mais profundos na crosta terrestre, tanto na terra quanto nas profundezas do oceano.
Embora os estudos de sismologia e geologia venham se aprimorando, nada pode substituir uma observação direta das partes mais íntimas do nosso planeta.
Contudo, os pesquisadores ainda não conseguiram chegar nem perto do manto.
Talvez eles consigam agora, conforme entra em ação um plano ousado cujo objetivo é alcançar o interior viscoso do nosso planeta.
Veja abaixo como tem sido esta saga em busca da observação das profundezas da Terra.
Primeira tentativa: Projeto Mohole, Baja California
Na década de 1950, cientistas norte-americanos tentaram fazer perfurações para obter amostras do manto, depois que um grupo de geólogos reunidos em um bar chegou à conclusão de que valia a pena tentar.
Eles chamaram a ideia de Projeto Mohole.
A perfuração começou na costa da Califórnia, mas o projeto foi cancelado por um ainda jovem Donald Rumsfeld, depois de atingir apenas 183 metros da superfície.
Mais profundo em terra: Poço Superprofundo Kola, Rússia
Desde então, as perfurações têm ido muito mais fundo.
O mais profundo poço do mundo em terra alcançou 12.262 metros da superfície, em uma região remota do noroeste da Rússia.
Ainda assim, isto é apenas cerca de um terço do caminho até o manto, porque a crosta continental tem dezenas de quilômetros de espessura.
Maior furo: Sakhalin-I, Rússia
Em 2011, a companhia petrolífera Exxon Mobil alegou ter feito o maior furo de sondagem do mundo, com 12.345 metros.
Tudo certo, só que o poço não foi perfurado verticalmente, ou para baixo.
O objetivo era a extrair petróleo mais perto da superfície, e não alcançar o manto.
Mais próximo do manto: Buraco 1256D, Costa Rica
Aquele que mais próximo chegou do manto até hoje foi o furo de sondagem 1256D, perfurado por cientistas ao largo da costa oeste da Costa Rica.
Ele atinge 1.507 metros abaixo do fundo do oceano.
É o mais próximo do manto porque estima-se que a espessura da crosta terrestre neste ponto esteja entre 5 e 5,5 km, uma das mais finas de toda a Terra.
Apesar disso, ele não é o buraco mais profundo na crosta oceânica.
Esse título vai para outro buraco, chamado 504B, no leste do Pacífico, que alcança 2.111 metros abaixo do fundo do mar.
Ele está mais longe do manto porque, nesse ponto, a crosta é mais grossa.
A caminho do manto: Projeto Mohole
Os geólogos estão agora embarcando em um dos esforços mais ambiciosos de exploração na história das ciências da Terra: uma missão para coletar um punhado de rochas do manto.
Uma broca a bordo do navio japonês Chikyu irá penetrar na crosta em um de três locais possíveis: Baja Califórnia, no Havaí ou na costa da América Central.
O projeto foi batizado de Mohole, em homenagem à ideia inicial, nascida da coragem de um grupo de amigos na mesa de um bar.
Quem sabe, desta vez, não surja outro burocrata para desligar a broca a meio caminho.