Júlio Bernardes - Agência USP - 16/09/2010
Para melhor adequar a produção brasileira de etanol às demandas de exportação, uma pesquisa com a participação do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEE) da USP recomenda o aprimoramento da logística já existente, sobretudo com a criação de um alcoolduto.
Logística do etanol
O estudo sobre a logística do etanol no Brasil e nos Estados Unidos recomenda a criação de alternativas ao transporte rodoviário para escoar o etanol e a melhoria da infraestrutura nas novas áreas produtoras.
"Os Estados Unidos são o principal mercado para o etanol brasileiro, devido a grande demanda", diz o professor Edmilson Moutinho dos Santos, do IEE, um dos autores do trabalho. "O Brasil, por sua vez, tem grande potencial para exportar o produto. Além disso, no mercado doméstico, precisa reduzir a alternância entre momentos de excesso de produção, quando os preços do etanol têm-se descolado em demasia em relação aos preços da gasolina, e escassez de combustível, de modo a manter um maior equilíbrio nos preços relativos dos combustíveis."
De acordo com a pesquisa, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a logística da produção de etanol é voltada para o mercado interno. A crise financeira internacional a partir de 2008 reduziu tanto as perspectivas de aumento da produção brasileira para exportação quanto de aquisição do combustível pelos Estados Unidos.
"Portanto, os investimentos em logística para exportação de etanol devem ser realizados com sabedoria e parcimônia, evitando-se investimentos excessivos e buscando-se otimizar a utilização da infraestrutura existente", destaca o professor do IEE.
"Para alcançar o mercado externo, em primeiro lugar, a atual infraestrutura de produção e distribuição do etanol no Brasil deve ser aperfeiçoada", acrescenta Santos. "Ao mesmo tempo, é inviável escoar a maior parte do álcool produzido no País por via rodoviária, em caminhões."
Para substituir o transporte rodoviário, o estudo indica, como estratégia de longo prazo, o planejamento e a implantação de uma rede de alcooldutos. Porém, no curto prazo, deve-se utilizar com maior robustez a hidrovia Tietê-Paraná.
Ferrovia e alcoolduto
A pesquisa também sugere a maior utilização da rede de ferrovias como alternativa mais imediata para o escoamento da produção de álcool. "A construção de alcooldutos é um investimento de longo prazo, para cinco anos ou mais", ressalta Santos."As ferrovias existentes atravessam as principais regiões produtoras e atualmente apresentam grande capacidade ociosa."
Segundo o pesquisador, deve ser dada maior atenção à logística das novas áreas produtoras de etanol, no Triângulo Mineiro, na Região Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) e no estado do Tocantins. "Essas regiões apresentam grandes deficiências de infraestrutura, que podem comprometer os planos de exportação no futuro."
No caso dos Estados Unidos, as incertezas em torno da recuperação da economia tornam mais difícil a substituição de políticas de subsídios para a produção interna de etanol por um incremento das exportações. "Assim, a tendência é que se mantenha a logística atual, que é totalmente voltada para abastecer o mercado interno predominantemente a partir da produção doméstica", aponta o professor.
Diante da falta de perspectivas para a exportação do etanol brasileiro, Santos recomenda que seja priorizado o aperfeiçoamento da estrutura logística já existente para melhor integrar as regiões produtoras aos mercados brasileiros. "Seria arriscado fazer grandes investimentos exportadores em curto prazo se não existem oportunidades de venda no exterior. Ao mesmo tempo, o sistema de distribuição de etanol dentro do Brasil, em regiões mais distantes das zonas de produção, não é totalmente racional e competitivo", observa.
O estudo A comparative analysis between Brazil and the USA in Ethanol logistics foi realizado em parceria com Flavio Taioli, da Universidade Ibirapuera (São Paulo) e Jacques Colin, da Université de la Méditerranée, em Marselha (França).