Agência USP - 04/03/2005
Atualmente, a vistoria de objetos como plataformas de petróleo e cascos de navios é realizada principalmente com câmeras de vídeo normais, e a análise é feita visualmente. Com a utilização dos hologramas, obtêm-se dados tridimensionais detalhados sobre a forma da superfície analisada e as dimensões de eventuais anormalidades, como fissuras ou deformações excessivas.
Experimentos em laboratório mostraram que o método consegue identificar entalhes milimétricos, dentro e fora da água, com uma precisão compatível com a inspeção de controle de qualidade industrial. "No ensaio (a seco) feito no laboratório, os resultados foram muito parecidos, praticamente iguais aos levantados com o microscópio", afirma Rodrigo de Souza Dias, autor da tese de mestrado que deu origem ao método.
Nos testes com objeto submerso, a precisão foi um pouco menor, por conta de diversos fatores do meio, como a reflexão da luz. Entretanto, Dias explica que muita coisa poderia ser melhorada com a simples troca dos equipamentos. "Com um laser mais potente ou uma câmera mais sensível, é possível minimizar o problema de reflexão, tornando as imagens mais nítidas".
Hologramas
O sistema consiste basicamente em um conjunto de uma câmera de vídeo digital tipo CCD (em português, dispositivo de carga acoplada), que capta somente a intensidade da luz, uma fonte emissora de laser, e um computador com o software desenvolvido. A estrutura a ser analisada é filmada, devidamente iluminada pelo laser e, posteriormente, os dados são enviados para o computador. O software realiza o trabalho de reconstrução tridimensional.
Uma imagem é gerada, mas a inspeção das falhas é feita pelo próprio computador, que fornece informações sobre as dimensões da fissura, determinando profundidade, largura comprimento, etc. "Com imagens em vídeo ou fotografias, não se obtém os valores dimensionais destas trincas", compara o pesquisador.
No projeto de Dias, os equipamentos não ficam submersos, mas a idéia é desenvolver uma estrutura menor para que isso seja possível. No caso de explorações submarinas, isso seria necessário, principalmente para grandes profundidades, onde não é possível enviar um mergulhador. Neste caso, utiliza-se normalmente um veículo com controle remoto e uma câmera de vídeo. "A intenção é substituir essa câmera de vídeo e colocar o equipamento no lugar, aproveitando o que já foi feito".
O projeto ainda está no início, e não existem previsões para a produção de um protótipo comercializável. "Já entramos em contato com a Petrobras na tentativa de conseguir patrocínio", diz o professor Edison Gonçalves, orientador do estudo.
O professor destaca outras aplicações para o método, além da inspeção de plataformas de petróleo e navios. "Fora da água, o sistema pode ser utilizado no controle de qualidade em linhas de produção". Seria necessário dar continuidade ao estudo para desenvolver esta nova aplicação, mas com isso seria possível verificar se todas as peças estão dentro dos padrões estabelecidos, pela determinação das dimensões de cada uma.
O software utilizado no projeto de Dias foi desenvolvido na tese de doutorado de José Luiz Valin Rivera, também orientada por Gonçalves. No entanto, este estudo teve um direcionamento diferente, preocupando-se em monitorar deformações e tensões em objetos. Segundo ele, esta técnica de holografia digital é inédita. "É uma linha de pesquisa bastante ousada"