Agência FAPESP - 31/01/2007
Molécula que caminha
Um grupo de pesquisadores, liderado por Ludwig Bartels, na Universidade da Califórnia em Riverside, nos Estados Unidos, chamou a atenção em 2005 ao controlar o movimento de uma molécula, que se moveu em linha reta por uma superfície plana.
O artigo que descreveu a "molécula andarilha" foi considerado um dos mais importantes do ano pelo Instituto Norte-Americano de Física.
Bartels e sua equipe agora têm outra novidade: a molécula já caminha levando peso, como se carregasse dois sacos de supermercado, um em cada "mão".
Os pesquisadores conseguiram fazer com que cada molécula de antraquinona (C14H8O2) - composto orgânico largamente usado para transformar celulose da madeira em papel - levasse duas moléculas de dióxido de carbono (CO2) enquanto se deslocava.
Transporte de medicamentos
O transporte em escala nanométrica tem grandes potencialidades, como, por exemplo, levar medicamentos pela corrente sangüínea para destruir tumores em locais específicos.
"Trata-se de um passo sem precedentes no desenvolvimento de máquinas em escala molecular. O experimento mostra uma maneira confiável de transportar moléculas que se tornará tão importante para as máquinas moleculares do futuro quanto são os caminhões e trens para as fábricas de hoje", disse Bartels em comunicado da Universidade da Califórnia em Riverside.
Os pesquisadores fizeram com que a molécula de antraquinona pegasse e soltasse moléculas de dióxido de carbono e as transportasse à medida que se deslocava por uma superfície plana feita de cobre.
"Carregar peso faz com que a molécula fique mais lenta. Levar uma molécula de CO2 exige duas vezes mais energia para cada 'passo'. Duas moléculas requerem cerca de três vezes mais energia. É um processo parecido com o de uma pessoa que carrega sacos nas mãos", disse Bartels.
Um passo de cada vez
"O processo lembra a maneira como a natureza se comporta: a molécula transportadora carrega o dióxido de carbono por uma superfície. No corpo humano, a hemoglobina carrega oxigênio para fora e dióxido de carbono para dentro dos pulmões", explicou Bartels.
O pesquisador destaca que a pesquisa ainda está em sua infância e que as conquistas são obtidas uma de cada vez. "Em 2005, inventamos a molécula andarilha, que se move em linha reta em vez de pular em todas as direções, como faria uma molécula normal. Agora, ela consegue carregar peso", disse.
O pesquisador conta que os próximos passos para a molécula transportadora poderão ser andar por cantos, girar a carga ou enviar fótons de modo a sinalizar onde ela se encontra.