Redação do Site Inovação Tecnológica - 31/10/2006
O que o eterno problema da infecção hospitalar tem a ver com a troca de 25 quilômetros do oleoduto do Alasca, que recentemente fez os preços do petróleo subirem ainda mais?
Problemas aparentemente tão diferentes, ao lado de muitos outros, que diariamente afetam a indústria e a saúde da população, são causados por biofilmes - estruturas formadas espontaneamente por diversos tipos de bactérias, e que as torna altamente resistentes aos desinfetantes e produtos anti-corrosivos que as deveriam exterminar.
Os biofilmes são agregações complexas das bactérias, que segregam uma matriz adesiva protetora - neste caso, protetora das bactérias, contra qualquer tentativa de exterminá-las. Os biofilmes formam-se em virtualmente qualquer situação onde haja contato de sólidos e líquidos ou sólidos e gases - ou seja, em praticamente todos os lugares imagináveis.
Quando estão sozinhas, na forma planctônica, a maioria das bactérias não oferece grandes riscos e geralmente são fáceis de controlar. Mas quando formam biofilmes, elas parecem ganhar super poderes.
São os biofilmes que recobrem contatos eletrônicos, causam a corrosão generalizada em oleodutos, assim como causam cáries nos dentes e estão na origem de uma série de doenças, como a fibrose cística, úlceras, colites e infecções do ouvido, apenas para citar algumas.
Agora, o biólogo David Davies, da Universidade de Binghamton, Estados Unidos, descobriu uma molécula que é capaz de desestruturar os biofilmes, deixando as bactérias individuais até 1.000 vezes mais suscetíveis à ação dos desinfetantes.
A pequena molécula parece ser um dos poucos exemplos conhecidos que parece se comunicar entre espécies, famílias e filo. Embora ainda não tenha evidências experimentais, Davies prevê que o composto também poderá estabelecer comunicações até mesmo entre reinos de bactérias.
"[Esta molécula] é um novo paradigma na forma como observamos como as bactérias regulam seu próprio comportamento. Eu considero isto o Cálice Sagrado da pesquisa em biofilmes," diz o cientista.
Esse autoindutor de dispersão, como tecnicamente é conhecido o composto que Davies está desenvolvendo, já se mostrou capaz de quebrar biofilmes formados por Pseudomonas aeruginosa, Streptococcus mutans (strep), Escherichia coli (E coli) e Staphylococcus aureus (staph).
Ainda não há previsão de quando o novo composto poderá ser sintetizado em escala comercial.