Valéria Dias - Agência USP - 01/11/2007
Pesquisadores da USP demonstraram que o resfriamento do leite nas pequenas fazendas produtoras poderia ser feito usando como combustível o biogás resultante do processamento dos detritos dos próprios animais, economizando energia e gerando maiores ganhos para os produtores.
Resfriamento de leite
A análise técnico-econômica analisou três tipos de sistemas para o resfriamento dos tanques e constataram que o modelo mais adequado é um ciclo de refrigeração convencional que utiliza energia produzida por gerador elétrico com motor de ciclo Otto modificado para utilizar 100% biogás.
"Esta seria a opção mais adequada tanto para o produtor que ainda não tem um sistema de refrigeração como para aquele que quer substituir o uso da energia da rede elétrica convencional pelo biogás", afirma o professor Flávio Augusto Sanzovo Fiorelli, da Escola Politécnica (Poli) da USP. Fiorelli foi orientador da pesquisa, feita pelo engenheiro Giancarlo Obando Diaz. As análises foram realizadas pensando-se no pequeno e no médio produtor, com rebanhos de até 50 vacas.
Biogás para acionamento de motores
"Projetos de instalação de biodigestores para o gerenciamento adequado dos detritos animais atendem às orientações do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) do Protocolo de Kyoto, visando à redução das emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE)", afirma Fiorelli.
Foram analisadas, além do gerador com motor de ciclo Otto, outras três alternativas para o sistema de refrigeração: acionamento por energia elétrica comprada da rede de distribuição (configuração de referência), gerador com motor de ciclo diesel modificado para trabalhar com 60% de biogás e 40% de diesel, e a queima direta do biogás em um ciclo de refrigeração por absorção.
Biodigestores = biogás + adubo
Na configuração estudada (rebanho de até 50 vacas, com cada uma produzindo aproximadamente 20 litros), a produção diária seria de mil litros de leite. "O leite sai da vaca em uma temperatura de 35 a 36 graus Celsius (°C). Para a produção do tipo B, segundo a Instrução Normativa 51 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o leite deve ser resfriado, na própria fazenda, a 4°C em até 3 horas após a ordenha", explica Fiorelli.
Por dia, esse rebanho produziria cerca de 20 metros cúbicos (m³) de esterco, detrito que seria colocado no biodigestor. "O tamanho do biodigestor varia de acordo com o tamanho do rebanho", esclarece Fiorelli. O esterco passaria por um processo de digestão anaeróbica que dura cerca de 50 a 55 dias.
No final, haveria o biogás e o resíduo sólido do processo (efluente). "O efluente poderia ser usado como adubo pelo próprio fazendeiro em substituição a adubos químicos ou então vendido." Já o biogás (basicamente uma mistura de metano e gás carbônico) ficaria armazenado na parte superior do biodigestor até sua utilização. A energia produzida seria suficiente para manter o tanque refrigerado por 48 horas.
Créditos de carbono
O custo do biodigestor ficaria em torno de R$15 mil. Para a implantação do projeto, Fiorelli sugere que o produtor faça uma parceria com algum investidor interessado em gerar créditos de carbono para comercialização.
"A cotação desses créditos em agosto de 2006 era de €10,00 a tonelada. A estimativa de geração de créditos de carbono com essa cotação é de R$45.000,00 durante a duração do projeto MDL, que é de dez anos. É importante destacar que esse cenário está mudando, pois as estimativas para o final de 2008 indicam que os créditos de carbono estarão valendo cerca de €20,00," calcula o pesquisador.
De acordo com o professor, a análise técnico-econômica do engenheiro Giancarlo Obando Diaz é o primeiro passo necessário para a implantação do projeto. "A próxima etapa agora é instalar uma planta piloto em parceria com empresas interessadas, para validar esse resultado e analisar também outros cenários, como por exemplo, rebanhos menores, ou com outras configurações, como no caso de gado semiconfinado, por exemplo."
Maiores informações sobre o projeto podem ser obtidas pelo telefone (11) 3091- 9661, com o professor Flávio Augusto Sanzovo Fiorelli ou pelo e-mail fiorelli@usp.br.